- ATUALIZADO EM 04/02/17 - Se você leu antes disso, da uma lida novamente, houve reestruturação dos festivais de forma que ficasse mais satisfatório, mais real e mais compatível com outros praticantes pelo mundo! -
Para quem já entende um pouco sobre bruxaria e paganismo, ou já está a algum tempo celebrando, conhece as celebrações clássicas que são realizadas: os sabás. Mas para quem não conhece, irei introduzir o assunto.
Basicamente todos os povos tiveram algum tipo de celebrações. Desde apenas os equinócios e solstícios, até mais celebrações dentro de um ano. As celebrações, como o próprio nome já diz, servem para celebrar algo, para pedir, para agradecer, para doar e receber, etc.
Mas o que celebramos?
Celebramos os ciclos da natureza e, para vertentes mais modernas, os nossos próprios ciclos.
Eu digo vertentes modernas, porque essa visão de que os processos dos ciclos naturais se assemelham com os nossos processos internos, é uma visão moderna da coisa. Ou pelo menos não havia dentre os povos germânicos. Para os germânicos, os sacrifícios eram realizados em épocas específicas para se pedir por boas colheitas, para se continuar com abundância, saúde, agradecer, etc.
Celebrações comumente conhecidas
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Sabás celebrados na Wicca. |
Quem já é do meio pagão, vai reconhecer de cara os sabás. São quatro celebrações referentes aos equinócios e solstícios e quatro outros festivais.
Esses sabás são amplamente celebrados por várias vertentes de bruxaria e paganismo modernas, por conta disso criou-se a ideia de que somente estes festivais são os corretos. Ou até de que só existem esses festivais.
Isso não poderia ser mais longe da verdade. Não posso aprofundar esse assunto pra vocês porque nunca fui ligado a cultura celta, mas até onde sei esse seria a "roda do ano" que os celtas celebravam.
Porém, ele foi amplamente difundido pela Wicca. E por consequência, quem está chegando agora no paganismo, sempre se depara com estas celebrações. Eu mesmo já celebrei enquanto estive na Wicca, só que nunca consegui completar uma roda inteira pois não me sentia confortável com estas celebrações. Isso gera um certo problema, pra mim, que é celebrar datas e celebrações de um povo com Deuses de outro povo. PRA MIM, isso não faz o menor sentido. Por mais que as datas que sejam o importante e não o nome que se dá, tem que se admitir que gera uma certa egrégora em relação aos festivais. Por conta disso, quando eu senti que o meu caminho era o heathenismo, eu decidi ir atrás de festivais reais que eram celebrados por estes povos.
Relação inverno x verão na visão germânica
Primeiro de tudo, é necessário explicar a divisão das estações, segundo alguns textos. Não são citados celebrações de primavera e outono e isso foi no mínimo intrigante. Porém, um dos festivais é marcado no meio do inverno para se ter uma boa colheita. As colheitas, eram feitas no verão, sendo que no verão era a estação da agricultura e o inverno da pecuária. Se fôssemos levar em consideração as quatro estações, cada uma tem três meses de duração e o meio do inverno seria depois de um mês e meio, correto? Porém, não faz sentido. Por que diabos eles iriam celebrar para uma boa colheita no meio do inverno se ainda teria toda a primavera pela frente? Foi ai que me caiu a ficha e eu entendi que na realidade não havia quatro estações e sim duas. Pode ser até que eles tivessem noção das quatro, mas o inverno e verão eram muito mais fortes e por conta disso se contava mesmo apenas os dois. Tendo isso em mente, é como se todas as fontes tivesse fechado e realmente fizesse sentido.
Então, o calendário fica dessa forma: Setembro (Início do Verão), Dezembro (Meio do Verão), Abril (Início do inverno) e Junho (Meio do inverno).
Nota: Essa conclusão minha foi confirmada posteriormente em outros livros que li. Não é coisa da minha cabeça, ta gente? rsrs
Nota: Essa conclusão minha foi confirmada posteriormente em outros livros que li. Não é coisa da minha cabeça, ta gente? rsrs
Festivais
Aqui nós temos um grande problema que é a miscigenação com a Wicca. Pois é, alguns kindreds e sites sobre paganismo germânico divulgam datas um pouco errôneas, com adaptações modernas, com referências sempre a esse calendário celta e etc. Não só as datas, porque as datas ainda que algumas batem. O problema é a forma de celebrar! Vamos analisar o trecho abaixo:
"Snorri Sturluson citou as três datas mais importantes relacionadas com sacrifícios no mundo nórdico e suas motivações (Ynglinga saga 8): no início do inverno para um ano mais próspero; no meio do inverno para a fertilidade; no início do verão para a vitória. Elas eram distribuídas ao longo de um ano com 364 dias dividido em duas metades."
Dicionário de Mitologia Nórdica - Johnni Langer
Como podem ver, existem 3 blóts anuais que se deve fazer "obrigatoriamente". Mas como sabemos que o que ficou registrado é uma parte tão pequena de uma cultura tão grande, possivelmente houveram mais celebrações. Lembrando que os blótar não eram feitos a torto e direito, por qualquer motivo em qualquer celebração.
Sendo assim, eu cruzei vários calendários diferentes (tanto brasileiros quanto estrangeiros), juntamente com textos, livros e artigos e segui a dica do do autor Bil Linzie: Manter aquelas três datas principais dos blotar e incluir datas de acordo com a região que você mora e/ou que você considera importante. AS CELEBRAÇÕES QUE SÃO NAS DATAS DAS ESTAÇÕES ESTÃO DE ACORDO COM 2017! CASO LEIA ISSO EM OUTRO ANO, CHECAR ESSAS DATAS PARA VER QUANDO AS ESTAÇÕES COMEÇAM!
20/03 - Vetrnaet: É o início do inverno, onde agradecemos a colheita e/ou as colheitas que passaram e pedimos que a terra continue fértil para que possamos continuar plantando. Aqui realizamos o primeiro blót (Haustblót) para a fertilidade. Logicamente este festival é celebrado com Deuses da fertilidade. Aqui também se realiza o disablót, o sacrifício para as Dísir. As Dísir são espíritos femininos, algumas fontes relatam que já foram humanos em algum ponto. São associadas com o destino e com fertilidade. Há relatos de que Dísir poderiam ser protetoras de clãs, tribos, etc. Entendo que sejam espíritos femininos que possam se aliar a você e a sua família e/ou seu grupo.
20/06 a 02/07 - Hokunott (ou Jol): Este festival tem duração de 12 dias e começa um dia antes do solstício, no caso dia 20 (considerando 21 como solstício, mas muda a cada ano). Durante estes 12 dias, que são os 12 dias entre o fim do ciclo e o início de outro (Ou seja, ano velho/ano novo), nós celebraremos com os Deuses e os seres. Além de realizar o segundo blót (Midvetrarblót). Tente perceber as mudanças que estão ocorrendo, se você e/ou as pessoas ao seu redor estão agindo diferente, se sentindo diferente. Tente agir e falar coisas que você quer que aconteçam nesse novo ciclo. Evite brigas, evite ódio... é tempo de festa e alegria. Lembre-se: Não plante ódio se quer colher amor. Caso não tenha como fazer uma celebração a cada noite, priorize os 3 dias descritos abaixo.
Nota: "Panteão pessoal" é um termo que não vejo utilizarem no heathenismo, ok!? Eu utilizo porque tive uma base anterior, focada no neopaganismo e achei esse termo interessante de se manter. "Panteão pessoal" é aquele conjunto de Deuses que você venera, lembra e conversa com mais frequência. Aqueles que tu tem mais afinidade, que se sente mais ligado. Devemos sim celebrar todos, temos um ano inteiro pra encaixar celebrações para todos! Mas também podemos sentir mais afinidade com alguns.
- 1º dia (20/06) - Mōdraniht (ou Mother's night, Noite das Mães): Início do festival de Hokunott é a noite onde celebramos as Deusas com aspecto familiar e espíritos familiares. Se sua mãe limpa a casa, que tal ajudar? Que tal fazer um almoço para a família? Um jantar? Mesmo sua família não sendo heathen ou pagã, seus antepassados foram, em algum momento da história. Não precisa contar pra eles, não precisa fazer nada de diferente na hora do almoço ou janta. Faça um rito antes, sozinho e amplie-o para a refeição que fará com a sua família. Peça as bençãos das Deusas que escolheu celebrar enquanto prepara a refeição, invoque Runas que acha que tem ligação... são tantas ideias.
- 2º dia (21/06) - Solstício de Inverno: É o ápice do inverno, a noite mais longa. Metade do inverno! Aqui nos lembramos que o pior já passou, que a partir de agora o calor começa aos poucos a retornar. Estamos caminhando para a fertilidade novamente. Aqui é super indicado realizar vigília, passar pela noite mais longa esperando o novo dia, esperando Sunna aparecer no céu com sua carruagem. Além de claro alguma celebração mais completa. E também o segundo blót (Midvetrarblót), para fertilidade. Aqui celebramos com os Deuses ligados a fertilidade (tanto das pessoas quanto da terra), para que tudo possa germinar. Pra quem está começando agora (e caso já tenha passado desta data), não quer dizer que não possa celebrar, mas de preferência pra fazer algum tipo de votos aqui. Aproveite o resto do tempo para ter certeza se este é o seu caminho.
- 3º a 11º dia: Caso não consiga celebrar todas as noites, faça atos pequenos como agradecimentos, reflexões, meditações e etc. Vamos aproveitar pra celebrar TODOS os outros Deuses nesses dias? Até aqueles que só se sabe o nome, vamos agradecer, vamos lembrar que somos politeístas. E importantíssimo, realizar no dia que preferir o alfáblot (sacrifício para os elfos). Elfos são seres dotados de imensa sabedoria e magia e algumas fontes atestam que são pessoas que já viveram em terra.
- 12º dia (02/07) - Virada do ano: Finalmente nosso ciclo terminou, nossa roda girou e começamos mais um ano. Além de agradecer a todos os Deuses e seres (novamente), converse com o seu panteão pessoal sobre suas expectativas, peça auxílio, utilize as Runas... muitas atividades para serem feitas também.
Nota: "Panteão pessoal" é um termo que não vejo utilizarem no heathenismo, ok!? Eu utilizo porque tive uma base anterior, focada no neopaganismo e achei esse termo interessante de se manter. "Panteão pessoal" é aquele conjunto de Deuses que você venera, lembra e conversa com mais frequência. Aqueles que tu tem mais afinidade, que se sente mais ligado. Devemos sim celebrar todos, temos um ano inteiro pra encaixar celebrações para todos! Mas também podemos sentir mais afinidade com alguns.
21/07 - Þorriblót: Ao contrário do que é muito difundido e celebrado atualmente, não é um festival em homenagem ao Deus Þorr (Thor) e sim ao Deus Þorri (Thorri). Esta divindade é a personificação da geada/inverno. Não se tem muitos detalhes sobre, mas é uma boa época pra se celebrar com os Deuses do inverno/gelo, agradecer por ter passado o inverno em segurança, vivo e com abundância nos alimentos.
22/09 - Sumarmál (ou Sumer-finding): Aqui estamos no início do verão, onde realizamos o terceiro e último blót (Sumarblót), para se obter sucesso nas batalhas! Obviamente, aqui invocamos os Deuses guerreiros.
Hexennacht (trad.: Noite das Bruxas; Walpurgisnacht): Celebração de noite das bruxas. Há relatos de bruxas mandarem para longe o inverno durante 12 dias de pura dança e festejos. Nessa época começamos a benção da colheita, pedindo proteção para a colheita em si e também para os animais. Pedimos também que nosso ciclo seja próspero que possamos colher os frutos que iremos plantar de forma benéfica. A diferença daqui para o blót de fertilidade, é o seguinte: No blót você da um presente aos Deuses para que eles mantenham a terra fértil. A escolha de plantar ou não é sua, então aqui é o momento que começamos a plantar realmente e precisamos abençoar para ter uma boa colheita no fim do verão. Por ser a noite das bruxas, por ser relacionado ao seu poder, ao meu poder como vitki, eu escolho celebrar com divindades relacionadas a sabedoria e magia. Em relação a data, algumas fontes atestam que era celebrada no início da primavera (ou seja, início do verão), mas outras atestam que o Sumarmál era celebrado no início do verão. Como um tem a ver com o blót para se obter sucesso nas batalhas e outro fertilidade, eu celebro separado. Então não tem data fixa, mas preferencialmente um pouco depois do início da primavera (verão).
31/10 - Ancestors blót (trad.: Sacrifício para os ancestrais): Essa é uma data morderníssima, mas não menos importante. Escolhi deixar neste dia por conta da egrégora que todo hemisfério norte está celebrando, a egrégora de Samhain. Aqui é a noite onde realizamos uma pequena oferenda aos nossos ancestrais.
31/10 - Ancestors blót (trad.: Sacrifício para os ancestrais): Essa é uma data morderníssima, mas não menos importante. Escolhi deixar neste dia por conta da egrégora que todo hemisfério norte está celebrando, a egrégora de Samhain. Aqui é a noite onde realizamos uma pequena oferenda aos nossos ancestrais.
21/12 - Midsommar: Aqui chegamos no ápice do verão, é a celebração oposta ao Hokunott. Temos mais apenas mais três meses pela frente para colhermos, caçarmos e explorarmos novos ambientes. Já precisamos ter ideia do que teremos de retorno e dividir com os amigos e familiares. É hora de celebrarmos o pico máximo de toda aquela fertilidade que pedimos em outros festivais!
Os 3 sacrifícios
A primeira coisa que você pode ter pensado ao ler sobre os sacrifícios é: "Ah, mas eu não planto, nem colho. Muito menos saio por ai para batalhar". Exato, mas não quer dizer que energeticamente você não tenha colheitas, plantações, batalhas e etc. Então tenta puxar isso pra sua vida, para a vida moderna. Se você mora no campo, tem contato com a terra, é ótimo que você pode sentir esses sacrifícios mais literalmente. Mas pra quem não pode, encara como energia. Pensa da seguinte maneira, para os seguintes povos, a vida girava em torno das colheitas. O ciclo era inerente daquela sociedade. A época de colheita, era de colheita e ponto. Ali se colhia todos os frutos de um trabalho. E da mesma forma podemos associar isso com as nossas atividades modernas.
Marcadores de tempo e estações
Para finalizar, queria esclarecer algo: Deve-se saber que há duas contagens de estações. Por via astronômica e meteorológica. Sendo a segunda, quando realmente começa as mudanças da estação e a astronômica quando chega no seu pico e se mantém, ou seja, a marcada no calendário é a astronômica. Sendo assim, as datas são fixadas para melhor entendimento, mas apenas por isso. Porque para se marcar o tempo e se saber quando era uma celebração ou outra, se utilizava principalmente a lua e algum evento específico. Por exemplo, quando algum cogumelo nascia e esse cogumelo só surgia no verão. Então sabe-se que é o verão. Mas como a natureza não segue datas, pode ser que esse cogumelo tenha nascido dentro da estação meteorológica que começa antes da astronômica. Então realmente não tem como inferir datas super precisas.
Considerações finais
Como eu disse na apresentação do blog, o meu objeto é reconstruir! Claro, existem pontos impossíveis de reconstruir e existem festivais que ainda são celebrados, que resistiram (ainda são celebrados e oficiais nos países). Um exemplo é o Midsommar que é feriado na Suécia. Vamos celebrar da maneira antiga, mas importando elementos novos que os próprios nativos usam para este festival, por exemplo. Antes que acham que eu mudei tudo, não. Eu reformulei, tirei uns festivais modernos sem sentido (que são os "extras" de cada grupo), arrumei as datas e o significado de cada celebração. E também fui em FONTES CONFIÁVEIS pra procurar os reais significados de cada celebração. Esses são os "festivais base", você pode incluir festivais criados por você para celebrar os Deuses, ou algum festival regional ou alguma cultura regional. Por exemplo, eu estou cogitando celebrar o "Dia Mundial do Gato" junto com a Deusa Freyja, já que tenho contato mais íntimo com a Deusa.
Tschüss!
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